domingo, 16 de novembro de 2008

Macacos Hipócritas

e é assim que acontecem as coisas
assim são as pessoas
com sua caridade de coluna social
escondendo-se atrás de algum disfarce banal

se esquecem de seus erros
escondem suas falhas
fingem gostar de você
mas na verdade riem por dentro,
como se estivessem na frente de um espelho
vendo suas caras hipócritas e mortas
sem expressão

vivem como macacos na selva
pulando de galho em galho
procurando salvar-se
e passar por cima de todos

não sentem nada
não adianta fazer-lhes chorar
pois só a novela consegue tocar
seu mundo de fantasia

macacos hipócritas
em todo lugar
tentam me pegar
macacos hipócritas
rindo por dentro
na frente do espelho
macacos hipócritas
vivendo na selva de pedra
morrendo sozinhos

macacos
hipócritas
hipócritas
macacos

fedendo como porcos
manipulados como ovelhas
brigam como cães
na revolução dos macacos hipócritas


sábado, 8 de novembro de 2008

Uma reflexão antes de dormir




"Se a vida não fosse tão dificil seria mais fácil aceitar a morte"
.








I.

Aquela era uma cidade calma, praticamente nada acontecia ali. Daquelas cidades onde todos acordam pontualmente as oito da manhã e vão a padaria buscar o pãozinho e se informar sobre as "notícias", aquelas notícias que passam de boca em boca, sobre o filho de num sei quem que anda meio afeminado, ou a mulher de fulano que faz visitas regulares ao (...) "dentista".

Uma cidadezinha repleta de jovens tolos revoltados com a falta do que fazer, que se encontram na pracinha central para beber vodka barata, e fumar seus baseadinhos feitos de cocô e mato.

Claro que não podemos esquecer do clubinho local, sim, o clubinho... A melhor demonstração da inutilidade, do egoísmo e da superficialidade daquela maldita simpática sociedade que expulsa todos aqueles que dele não fazem parte, ou seja, uma perfeita metáfora da hospitalidade local.

Mas toda cidadezinha assim é repleta de músicos, de atorezinhos e de cinéfilozinhos metidos a cult. (...) Os músicos são oprimidos pelos vizinhos surdos de idade avançada que, ironicamente, se incomodam com o som, impedindo assim que as bandinhas ensaiem para aperfeiçoar sua arte... Os atorezinhos fazem a festa, já que devido a falta de lazer na cidade todos vão aos seus espetáculos. Os cultzinhos por sua vez são seres enigmáticos, já que passam o dia trancados em seus quartos , caçando na internet filminhos de diretores igualmente enigmáticos e ninfomaníacos.

Essas são as principais correntes sociais daquele belo e modesto feudo município.


II.

Certo dia, pela manhã, observa-se uma agitada movimentação no centro da cidade. Todos que estavam a escutar o programa de rádio do tal do Zé da fármacia, ficaram sabendo de um estranho fato que estava ocorrendo na casa d´uma família extremamente católica. O mala locutor não sabia explicar o que se passava, apenas informou seus leais ouvintes de que algo jamais visto na História estava a acontecer naquela morada.

No local curiosos se comprimiam para tentar ver de perto o que havia de tão incrível ali. Uns diziam se tratar de um cachorro de duas cabeças, outros de alguma santa em algum vidro, e alguns mais ousados afirmavam que chegaram a ouvir durante a noite gargalhadas do próprio "Coisa Ruim".

As três da tarde a polícia deve de intervir, pois até o trânsito havia ficado impedido por aquela multidão. Então o vagabundo prefeito foi chamado.

Ao chegar na casa acompanhado de três puxa-saco vereadores, o prefeito quis logo entrar e saber o que estava a agitar tanto a sua cidade. E lá vem o dono da casa, e todos ficam em silêncio, um silêncio que após tanto barulho era até ensurdecedor.

E ao ser indagado sobre o que ocorria, eis que vem a bomba. Em sua casa estava hospedado um homem invisível. Sim, um cientista que se tornara invisível. Porém, estranhamente também tenha ficado mudo após sua experiência. Ah, mas Deus é bondoso até com os cientistas ateus e lhe garantiu o dom da telepatia.

Vinha gente de todo a região conhecer o homem invisível e bater um papinho através do dono da casa, que ironicamente era o único a ter o nível telepático necessário para se comunicar com o ilustre visitante. Todos queriam ver o homem invisível. Vieram cientistas, padres, pais de santo, paranormais, apresentadores de T.V, e ninguém soube explicar se talfenómeno era real ou não. "Eu senti uma vibração muito forte ao entrar na casa" afirmou o alienado jornalista que lá esteve presente transmitindo ao vivo para todo o pais.

Passaram-se meses e o visitante, aparentemente encantado com a cidade, ali permanecia. Até que num dia de novembro a jovem filha do prefeito apareceu grávida. "Ele é o pai", disse a garota caindo em lágrimas referindo-se ao homem invisível. Foi umbafá-fá geral. A cidade entrou em pânico, os pais com medo trancaram suas filhas em casa. O antes querido homem invisível, era agora um monstro que atacava garotas a qualquer hora do dia ou da noite.

Todos exigiam que houvesse alguma ação por parte das autoridades. Pois num dia dois carros pretos com placas pretas e vidros pretos foram vistos pela cidade.

Depois daquele dia não se viu mais a filha do prefeito, nem ouviu-se mais falar em homem invisível.


III.

Hoje aquela ainda é uma pacata cidade. Onde musicuzinhos e a terceira idade convivem em perfeito conflito. Claro, que agora temos o adendo de diversas outras "tribos" convivendo ali, como por exemplo os mano-nóias que trafegam em seus carros com o banco deitado e o som para "catar as mina". É o fruto dos tempos modernos...

Ninguém naquela cidade, absolutamente ninguém jamais afirmou saber da história daquele visitante e de sua peculiar invisibilidade. Ninguém a não ser um senhor, na verdade um mendigo, a pessoa que me contou toda a história. Mas, coitado, nunca foi levado a sério. Alguns riem, outros temem, e aqueles que presenciaram os fatos por ele narrado apenas viram-se e caminham para suas vidas regradas, que desde aqueles dias não foi mais a mesmo.

E assim seguimos em frente. Nunca mais se soube o que ocorreu com a filha do prefeito e seu possível bebê invisível.

(...)